Mário Soares no DN de ontem em artigo de opinião intitulado "Crise e Governabilidade" num enquadramento geral muito pitoresco, de alguma lucidez mas com manifesto medo do futuro, escreve que «(...) Partidos, políticos, sindicatos e associações patronais exigem, algumas vezes, o impossível - como se não houvesse crise - sejam: os deputados da oposição, os professores, os agricultores e terratenientes ou os sindicalistas, especialmente os do Ministério Público e os juízes que, em vez de se limitarem a defender os interesses corporativos dos seus associados - que é a sua função - não se dispensam de intervir na política, opinando sobre as instituições e até sobre os processos em "segredo de justiça". Daí, também, o descrédito da justiça que hoje parece ser tão grave ou maior do que o dos partidos e dos órgãos de soberania…»
E escreve mais: «Os partidos, os políticos em geral, os sindicalistas e quem exerça funções públicas - todos - devem lutar, na minha modesta opinião, contra este clima derrotista que tem vindo a instalar-se, que afecta uns hoje e amanhã outros. Devem lutar pela dignificação das funções que exercem - no Governo e nas oposições - pela honradez no serviço público e no nosso Estado de direito. Se não for assim estarão, certamente sem o quererem, a pôr em causa os fundamentos do nosso regime democrático, o melhor e o mais importante que a Revolução dos Cravos nos trouxe.»
O que terá mudado em apenas 15 dias na informação acessível a Mário Soares ou o que de tão grave estará para acontecer para ter evoluído da posição em que considerava que o processo Face Oculta não passava de um «problema comezinho», desvalorizando desta forma a investigação, o seu impacto político e o envolvimento do primeiro-ministro José Sócrates para um ataque tão violento e claro aos actores passivos do problema da Justiça em Portugal (Juizes, Magistrados do MP, "esquecendo" os Investigadores e os Advogados...) quando toda a gente sabe que o problema está no lado político, que manipula sistematicamente a produção legislativa ao sabor das suas conveniências e interesses? TVI24 15-11-2009
Ficamos todos a saber que, na opinão de Mário Soares, o mesmo português que defendia o "direito à indignação", o problema é do espelho, do conhecimento dos factos e da realidade e não dos agentes da subversão política que transformou progressivamente a nossa Democracia numa Cleptocracia.
O que é grave é que esta referência histórica fundamental do Portugal recente, que alguns, imagine-se, até já cognominam de "padrasto da democracia", sabe muito bem que é o seu próprio partido, o PS que Mário Soares ajudou a fundar em 1973, que tem a sua sobrevivência em perigo. Pela pela mão de um José Sócrates lançado mediaticamente em tempo útil e sempre reforçado nos momentos decisivos pelo apoio explícito do ex-Presidente da República.
As três questões que se colocam após a leitura completa deste artigo de Mário Soares, curiosamente publicado no dia 1 de Dezembro de 2009, o dia da Restauração da Independência (e do Tratado de Lisboa, como faz lembrar o episódio anti-pessoano da marcação da data de assinatura da adesão de Portugal à CEE...) são:
- De que tem medo Mário Soares?- Quem manda em José Sócrates e em Portugal?
- Para onde foi, onde está e como será recuperado o nosso dinheiro e a normalidade democrática?
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