«Sucedem-se os "casos" e o desemprego bate recordes – mas a revolta, previsível em teoria, fica-se pelas colunas dos jornais. Porquê?
Primeiro, porque temos uma justiça que, quando se cruza com a classe política, não condena nem absolve: só suja. Cada um pode assim comprar e vender a "cabala" que mais lhe convém.
Segundo, porque o desemprego é a história de 10 por cento. Falta contar a história dos outros 90 por cento. Ao justificar "folgas" orçamentais e ao baixar os juros e a inflação, a crise proporcionou aos empregados o melhor tempo da última década: Portugal foi mesmo, dos países europeus, aquele em que mais cresceu o poder de compra este ano. No meio das lamúrias, este é o segredo mais bem guardado do país.
A questão é saber quanto mais tempo durará este doce declínio de uma economia de endividamento e de uma justiça de suspeitas inconsequentes. Nos próximos tempos, os juros hão-de subir e o Governo precisará de reequilibrar as contas: então, sim, arriscamo-nos a ter uma crise que não será só para os desempregados. E nesse momento, talvez que a complacência cínica com que agora vemos passar os "casos" se transforme em indignação.
A tenaz tem dois braços: um chama-se descrédito dos políticos, o outro empobrecimento dos cidadãos. Agora está aberta. Quando apertar, veremos se o regime aguenta.»
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